domingo, 18 de dezembro de 2011

Ver com outros olhos


Olhe: mas não com os olhos físicos.

Os olhos são limitados;
Perceberás apenas sua superfície.

O mundo.

Olhe com os olhos da alma,
E verás bem mais que um mundo superficial.

Porque o sofrimento não tem cor,
A fome não escolhe idade.

A alegria poder ser interpretada,
Assim como a bondade e a piedade.

Mas não as vemos, apenas podemos sentí-las.
Às vezes vemos e percebemos ao mesmo tempo.
Às vezes só olhamos, mas não percebemos.

A vida.

Como você vê o mundo?
Como percebe a vida?

Ou és um cego de olhos abertos?...

RRS, 16 dez 2011










sábado, 22 de outubro de 2011

A espiral universal


E se um dia o amor vier morar no seu peito,
Você jamais encontrará defeito
No outro, ou em você...

É uma sensação do todo e do tudo!
Você está e não está, ao mesmo tempo!
O sentido das coisas, não existe...

E se alguém chora e sofre,
Um pouco de você também chora;
Um pouco de você também grita,
Mas já não há o sofrimento...
Nada mais chega a ser triste.

E nessa dupla emoção de ser,
Não há mais o nascer ou o morrer!
A alma se acalma e não se agita.

É apenas um momento eterno,
Enclausurado num espaço limitado,
Diluído num oceano, imerso.

Os segredos de estar e não estar, 
Estão ali, cercados pela pele;
Rodopiando num mundo conturbado,
Na espiral infinita do Universo...

RRS, 22 out. 2011



segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Forte



Olha ali um forte !
Seu gibão, seu cavalo, seu gado.

De cada quatro, tem um!

Um pedaço de terra e muita  l u i t a...
Um leite, um queijo, uma reza.

Jesus protege ! Nossa Senhora também !

Ninguém qué tê ôio furado !
Nem corte, nem osso quebrado!
Puquê  ficá parado é triste !...
Sem trabaio, cumeno, jogado...

Espinho é coisa pouca!
Pernêra de couro de bode,
Guenta tudo que vaqueiro num pode!

Uma farinha, um pedaço de p o i c o ...
Tá bão ! Já dá pro gasto... 

Quando o Sinhô me chamá,
Me enterre ali na portêra !
Junto com a minha rabeca.

Quem passá por lá, se lembre:
Tô ativo do outro lado ! ...

Enquanto não me retiro,
Vou cantano o meu aboio.
Levanto cedo, cedim:
Mas num sô arma penada  !

Se me encontrá por aí,
Reze por mim na passada !


E Deus que te guie, irmão...
Vá tocá sua boiada...

RRS, 28 ago. 2011



.


domingo, 14 de agosto de 2011

Estudos anatômicos


Entre membros cortados, restos de tripas,
Sobre o peito vermelho ainda arfante,
Um corajoso ergue a espada !

Aos olhos dos cavalos, enfurecidos,
Que sangram, entre cortes e gritos,
A violência dos embates de campo,
Revela interiores protegidos,
Pela pele, sobre a musculatura farta.


Na borda da arena agitada,
A multidão libera seus recalques,
Das cobardias, dos impostos, da revolta.


Nos espetáculos circenses e nas guerras,
Nos prazeres de vencer um oponente,
Mais do que viver ou do poder,
Do ventre aberto de um homem agoniado,
 Nobre Galeno, quem diria !
Também se conquista a anatomia...

RRS, 14 ago. 2011.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Muito além



Um dia, Alguém pensou com amor...

E tão intenso foi o pensamento,
Que viajou no espaço, pulverizado.

Coloridos fogos, cheios de energia.
Evoluiram em mundos através de coisas;
Sem o tempo limitador, aprisionante.

Um dia: o que seria um dia?
Alguém desejou o bem...
E tudo, muito mais se organizou.

E hoje: o que seria o hoje?
Cada um de nós é uma centelha:
Dessas partículas, de intenções, de formas.

Vibrando no que chamamos ser a Terra,
Segue o homem, curioso, extasiado,
Querendo entender nosso passado...

Mas a resposta pode estar muito distante !
Indescritível, inusitada, inalcançável !

Além do além: do que  julgamos ser sagrado...

RRS, 7 ago. 2011
  

sábado, 2 de julho de 2011

Marcas



Com as minhas cores, meus traços,
Fortes, nervosos, emotivos;
Marco tons de sofrimentos,
Multiformas de alegrias.

O que me vem lá de dentro,
Manipulo num pincél...

Ficam ali meus sentimentos,
De muitos anos e dias...

Sentir na pele e no pano,
No papel,
Chorar, sorrir...
Sentir que se está chegando,
E ao mesmo tempo partir.

Nas rugas entrecortadas,
Da minha face curtida,
Estão pintados os quadros,
Que contaram a minha vida...

RRS, mar. 2006





domingo, 12 de junho de 2011

A rosa pudica


E então, estavam juntas algumas rosas, todas entreabertas...
Mas uma delas estava fechada, escondida entre as pétalas,

Tímida, recatada...

E as outras perguntaram: por que estás assim?

Ela disse: estou me sentindo sozinha!
As outras: Como? Estamos todas juntas nesta braçada!
Entre orquídeas e outras flores, todas lindas!

Sei, mas não por muito tempo, exclamou...
Logo vamos nos separar, e cada uma seguirá seu rumo...
Para onde iremos? Será que alguém vai gostar de mim?

A rosa mais bonita falou:
Não sei se por ser mais linda e mais vistosa, farei alguém feliz...
Mas o que importa é que estamos cumprindo a nossa missão.
Aonde quer que estejamos, alguém vai se emocionar!

E nesse momento, vamos estar lá,
Alegres ou tristes.

Mas com certeza, vamos deixar nosso perfume de amor,
E quem sabe as pessoas se sintam mais calmas e acolhidas?...

É esse o nosso papel.
Abra-se! Não se preocupe com o que virá!

Jamais deixe de alentar alguém ou de encantá-las!
A beleza desse ato não está em nós,

Está no que as pessoas vão sentir com a nossa presença...

RRS, 12 jun 2011



























































































































































































domingo, 5 de junho de 2011

Mata




Mata:

Estão querendo matar a mata!


Eliminar uma história evolutiva,


De plantas, de bichos, de genes...



Corta!

Que a mata atrapalha o Grão!

Na sede da imensidão...



Grita!

Que a margem do rio tomba,


Que o olho do topo morre,


Que a encosta inclinada, desce...



Chora!

Que tem gente que ainda zomba!


Que o verde nativo entrava,


Que tudo de fora, cresce...


Pensa!

Nas lembranças do passado,


Da pele vermelha ornada,


Das penas, tintas e cores...


Foge!

Que o bicho corre assustado,


Sem abrigo, esfomeado,


Borboletas sem flores...



Finge!

Que verde é uma coisa só,


Que tudo é só uma coisa,


Que não há diversidade...



Lucra!

Que o momento é agora!


O último, que feche a porta,

Diga adeus,

E vá embora...

RRS, 5 jun 2011

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Olhar



O seu olhar distante,




Entre as distâncias dos olhares,


Guarda saberes e inconstâncias,


Guarda vivências, esperando.


O seu olhar, entre os limites do destino,


Mira um futuro, um norte,


Uma esperança, um mito.


Quem dera todos os olhares puros fossem os olhares do mundo!.



Sem agonias, sem dores e sem grito,


Buscando a paz, o amor e a esperança,


Entre os dedos pequenos de criança.




RRS, 18 maio 2011

sábado, 16 de abril de 2011

Equilíbrio




Desestruturo minha construção de muro,

Desagregando os tijolos do espaço.


Desorganizo minha mente estruturada,

Para arrumar, depois, construjolada.


Pouco me importa a bagunça bagunçada!

Não há lugar algum para mais nada!

Cheia de livros, caixas e documentos...


Talvez sejam assim meus sentimentos,

Com uma grande diferença, veja bem!


Eu mudo de lugar sempre que eu quero,

Minha bagunça geral organizada,

E assim também faço em minha mente:

É uma questão de arrumar a arrumarada.


Os livros, todos eles na estante,

Outros deitados, empilhados, desiguais.


A cabeça, lá em cima, equilibrada;

Ou ao contrário, lá de cima, equilibrando.

E tudo mais, para baixo, arrumado.


Que maravilha tudo isso funcionando,

No caos do mundo, do aprender e do ensinar.

Os livros ficam ali eternamente,

E a eterna mente mudando tudo de lugar.


RRS, 3 abr 2011.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Louvor à ignorância do saber

Ah! Quem dera um dia eu conhecesse
Os segredos escondidos do viver...
Descobrisse a chave que abrisse
A passagem de um para outro ser.
Sem atritos, sem desordens, sofrimentos.
Colecionar apenas belos momentos,
Repetitíveis, com o segredo.
Mas sou um ignorante nato,
Desconectado das coisas do saber;
Que não consegue ler, em cada fato,
Uma mensagem viva, ensinamentos.
E assim, sigo animalisado,
Grotesco, mal educado.
Fruto do meu meio, do comum.
Mas quer saber: acho que me acostumei a viver assim.
Todos por aqui, fazem a mesma coisa!
Quase ninguém me nota!
E também não falam mal de mim...
RRS, 9 mar 2011

sexta-feira, 4 de março de 2011

Sem graça

Porque um dia perdi a graça de ser alguém,
Porque alguém me convenceu que eu era ninguém,
Até porque não tinha ninguém
Para dizer que eu seria alguém,

Me tornei um desgraçado!

Pelos cantos fedorentos e sem graça,
Vou enchendo meu cérebro de suspiros.
Não exatamente os da padaria;
São mais profundos, tonteiam.

Aqui e ali, esqueço o dia.

Do chão, esticado, vejo a luz me incomodando.
Cubro o rosto, envergonhado.
Fico meio sem graça, desgraçado.
Eu durmo, todo dia, de cansado!
De fraqueza, desamparado.

Eu, às vezes, até tento; mas não consigo rir!
Vi um palhaço fazendo palhaçadas!
Uns panos coloridos, se movimentando,
Uma cara pintada me gesticulando.
E eu, desesperado, procurando a graça.

Procurando, procurando, procurando.

Mas outras crianças estavam lá, rindo!
Pareciam estar se divertindo;

E eu sem graça, sem graça, sem graça.

Quando será que a minha graça vai voltar?
Brincar de novo na antiga praça!
É muito triste uma criança não brincar.
Olhar perdido,

Sem graça, sem graça, sem graça...

RRS, 4 mar. 2011.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

A criança, o galho, o pai e a lei.

A criança estava observando um galho seco que balançava pendurado na margem do rio e perguntou: pai, por que o galho balança? Ele tem energia própria? Vai e volta porque quer, ou alguém o obriga a voltar?

O pai ficou pensativo com a pergunta – não exatamente com o que poderia explicar - mas o filho era ainda muito pequeno para se preocupar com esse tipo de coisa. Ele deveria estar subindo em alguma árvore para pegar algum fruto e não ficar querendo saber por que o galho balançava ! Olhou para ele então, e disse o seguinte: meu filho, a vida é um eterno ir-e-vir. Veja o sol! Ele vem pela manhã, e vai embora antes do anoitecer. No outro dia, faz a mesma coisa. Os pássaros saem de seus abrigos todos os dias também, e voltam para eles ao anoitecer. É como se fosse uma lei do universo, que nós não podemos mudar, e devemos aceitá-las como tal. O filho olhou para o pai, mas não estava muito convencido. E voltou a perguntar: mas por que eu vou a algum lugar e ninguém me obriga a voltar de onde eu vim? O pai, outra vez respondeu: você não é “obrigado” a voltar porque você volta “naturalmente”, obedecendo a lei. Ela atua em você, mesmo que você não perceba! O filho não se convencia: mas por que as pessoas morrem e não voltam mais? O pai explicou: voltam sim, elas retornam como bebês, para cumprir suas missões outra vez. É um ciclo também. Vamos chamar isso de “lei do retorno” ou “princípio do pêndulo”. É exatamente o que você está vendo acontecer com o galho balançando. O galho pendurado é um pêndulo também. Ele não se parece nada com um cristal na ponta de um fio, mas a idéia é a mesma! O princípio funciona da mesma forma. Quando você empurra um peso pendurado numa corda ela voltará com a mesma intensidade que você o empurrou. Se usar muita força, o peso voltará com ela e você poderá ter problemas. Melhor seria que avaliasse o que vai fazer antes que a força se volte contra você mesmo. A natureza também tem limites e leis rigorosas! Precisamos conhecer estes segredos para saber com usá-los a nosso favor; e não exatamente “contra” nós !. Não devemos inventar leis ou estabelecer limites que não estejam dentro das leis e dos limites da natureza. Se fizermos isso, mais cedo ou mais tarde, o pêndulo se voltará contra nós com a mesma “violência” com que o empurramos. Por isso devemos ser gentis com a natureza e ela será gentil conosco, devolvendo-nos a graça que nós lhe oferecemos. Se a desafiamos, ela responderá desafiadoramente também. A natureza nunca é ruim, é apenas uma conseqüência natural da lei, Se você for agressivo com a natureza ela não responderá com agressividade, ela responderá com a aplicação de suas leis próprias - mesmo que isso cause muitos sofrimentos para nós humanos. A natureza não tem esse sentimento de fazer sofrer algo. Ela apenas usa as regras que sempre usou, mesmo quando nós nem estávamos aqui para constatar isso. A criança enfim suspirou: ta bom, acho que entendi! Vou ali apanhar aquela manga que está no chão e que sempre cai quando está madura, como manda a lei. Vou tirar sua casca e jogar fora para que sirva de alimento para os fungos, como manda a lei. Vou mastigar cada pedaço como sempre fiz e como manda a lei, Depois vou jogar o caroço fora para que outra mangueira possa nascer de novo, como manda a lei. Depois eu devo voltar para casa e dormir quando chegar a noite, como manda a lei. Acho que a partir de amanhã, quando acordar – como manda a lei - e vou tentar ver o mundo de um modo diferente. Ser menos arrogante e radical, reconhecendo que nós seremos – eternamente – dependente dessas leis, mesmo com todo o aparato tecnológico que possamos inventar. As leis não mudarão. Podemos ser felizes “dentro dos limites das leis da natureza”. Isso não nos é negado ! Mas precisamos respeitá-los, como manda a lei ...

sábado, 1 de janeiro de 2011

A sensata e necessária transformação


Roberto Rocha

Um sábio pergunta ao outro: o que é insegurança? Ao que o outro responde: insegurança é a sensação de não ser nada, de não acreditar em nada e de não confiar em nada. O nada é insegurança! E por que existe o nada? Insistiu o primeiro. O segundo disse: o nada existe porque o tudo é um privilégio para poucos que não desejam dividi-lo. Ainda o primeiro: o que é dividir? O segundo: dividir é não ser dono do todo. É cooperar na produção e colher os frutos do trabalho sem pensar no lucro, mas apenas na satisfação. Desculpe, o sábio disse: o que é satisfação? Meu caro amigo, satisfação é estar bem consigo mesmo, isto é, estar bem com o estômago, com a cabeça e com os músculos. Não há como ser feliz se o estômago ronca, se a cabeça dói e os músculos estão emperrados. Incrível! Exclamou o sábio perguntador. Eu tenho pensado muitas coisas mas nunca imaginei algo tão fácil de compreender. Sim, o outro sábio confirmou: as melhores soluções são as mais simples. São aquelas que transformam problemas complexos em soluções óbvias. É muito difícil perceber o óbvio. As respostas são tão claras que muitos não conseguem vê-las; outros, desconfiam delas. Desejam algo desafiador e quase impossível de se atingir. Que custe muito dinheiro e ocupe a todos em suas desnecessárias tarefas supervalorizadas. O irmão sábio ainda não estava satisfeito e convencido, e continuou: e as diferenças entre os homens? E o poder? E o ódio? Meu bom irmão e sábio, disse: as diferenças acabam quando todos são tratados da mesma forma e com respeito. O poder não deixará de existir nunca, mas deve ser uma força do bem, dentro de cada um e não uma “exibição de bens”. O ódio é um espaço fechado e desajustado aonde o amor ainda não chegou. Isso significa que ele não é eterno. É uma questão que depende do desejar e do permitir, com o coração puro e desarmado. O sábio olhou distante como se estivesse procurando uma pergunta final e desabafou: mas como transformar tudo isso em realidade? O outro também olhou para o horizonte. Depois, fitou longamente o amigo e disse: faça isso a cada dia, em todas as oportunidades que surgirem em sua vida. De repente, você se dará conta que fazer o bem se torna um hábito sadio e necessário. Você se sentirá feliz em ver outras pessoas felizes e outras pessoas farão você feliz também, porque elas estarão fazendo o mesmo com você. E então, você não lembrará mais da insegurança, do ódio ou da indiferença. O poder vai continuar a reinar, mas não para encher os seus cofres. Existirá para encher o seu coração...