quinta-feira, 30 de outubro de 2014

QUERERES


Quisera estar ali naquela estrela,
E cintilar você a noite a inteira.

Quisera estar ali naquela flor,
Com meu perfume envolver todo o seu corpo,
Com minhas cores te pintar cada lugar.   

Quisera estar no vento, estar no ar.
Ficar passando por entre os teus cabelos.
Arrepiar todos os teus pelos,
Te deixar eletrizada, eriçada.

Quisera estar ali naquela onda
Me revirando no teu corpo quase nu.

Quisera ser a água que circula,
Em você, por todos os lugares,
Desde a tua pele aveludada
Até tuas entranhas mais profundas.

Realizar meus sonhos, fantasias,
Com a intensidade que sempre pensei e quis.

Me perder no teu olhar de alegrias
E me deixar ficar ali sendo feliz...

(RRS, 30 out. 2014)






domingo, 5 de outubro de 2014

O HOMEM SABIDO

Vivemos uma breve passagem passageira,
passando  por um breve tempo, passageiro.
Viajamos para um fim já definido:
não poderemos viver eternamente
nesse aparente mundo calculado.
Nos já fomos muitos no passado!
Hoje somos Homo, unicamente.
Não teremos nenhum futuro depois disso:
só a morte e a nossa extinção...
Mas nos achamos ser eternamente eternos
em deletéria e equivocada ilusão.
Nós já fomos muitos, é verdade!
Mas hoje, apenas um, sem chances de divisão.
Estamos sozinhos na planície,
olhando o Sol se por ao longe, no horizonte.
Até que um dia
 não haverá mais quem o acompanhe, quem o adore,
quem o respeite ou quem o tema.  
Nesse mergulho que apaga cada dia,
um dia também nós apagaremos.
Ele voltará sozinho; mas nós não retornaremos...
A planície vai ficar deserta!
O Sol solitário, iluminando o que restou:
ossos, peles, cabelos e odores.
Prédios, estradas, monumentos e veículos.
Frios, quietos, calados e mudos.  
Uma lápide oportuna e explicativa:
em meio ao silêncio profundo e disperso.
Aqui jaz a espécie Homo sapiens:
o único homem sabido do Universo.

(RRS, 5 de outubro de 2014).

Homenagem ao antropólogo Claude Lévi-Strauss
(28/11/1908-01/11/2009).

" Fico emocionado porque estou na idade em que não se recebem nem se dão prêmios, pois sou muito velho para fazer parte de um corpo de jurados. Meu único desejo é um pouco mais de respeito para o mundo que começou sem ser humano e vai terminar sem ele – isso é algo que sempre deveríamos ter presente”

(Aos 97 anos, em 2005, quando recebeu o 17º Prêmio Internacional Catalunha, na Espanha). 

sábado, 13 de setembro de 2014

A moldura, o espelho e eu.





Andava eu com o meu rosto distraído,
quando então, inesperadamente,
 vi um antigo espelho emoldurado.
O seu entorno, incrivelmente detalhado,
o envolvia de uma forma inusitada.

Fiquei ali, não sei bem por quanto tempo, 
mas meditei sobre a minha própria vida:
das aventuras, dos sorrisos, dos espantos,
das diversões, das danças e dos encantos.

O que somos nós senão espelhos?
Espelho de nós, espelho dos outros:
um monte de espelhos!

E cada um carrega a sua moldura.
Algumas, muito alegres, refinadas.
Outras, muito tristes, empobrecidas...

Imaginei a minha própria moldura. 
Será alegre? Angustiada? Descontente?
Com muita ou pouca pintura?
Será lisa e sem textura?

Até que em dado momento me veio uma outra questão:
e o espelho? O que ele é?
Será ele também tão permanente?
Tão verdadeiro e tão envolvente?

Mostrará ao mundo todos os detalhes, 
todas as cores e todos os entalhes?
Cada contorno do nosso rosto-pedra, 
resultado do cinzel do tempo, esculpido na carne e na alma?
Retratará um sofrimento interno?
Todo o desespero ou toda a nossa calma?

Pensando bem, isso pouco importa!

Posso muito bem mudar minha moldura!
Quem sabe um tom mais forte ou mais quente?
Ou uma cor um tanto mais ousada?
Bem acolhedora! Toda despojada!

É isso! O que eu preciso é de uma mudança!

Construir a minha nova imagem!

E aquele olhar sem graça e apagado,
 Voltará a ser iluminado, cheio de brilhos: 
quase que encantado!

Viva a moldura! Viva o espelho! Viva eu!

Ser feliz não é nenhum pecado.
Quero me ver sorrindo neste quadro!
Eu aqui em pé, cheio de otimismo, 
Vendo a minha alegria do outro lado.

(RRS, 11 set. 2014)



domingo, 10 de agosto de 2014

Figuras de pai


O pai vai estar presente, querendo ou não querendo,
sempre, na vida da gente!
Ser polido, atencioso, ser fechado e até durão!
Ser exigente demais, ser um grande canastrão!
Ser motivo de orgulho, de dó, de decepção.
Cobranças e esperanças, elogios e ofensas.

Todos serão nossos pais!

Alguns quase esquecidos...
Outros, sempre venerados!
Outros mais, desconhecidos...
Mesmo que o tempo passe, o pai será sempre o pai.
Com todas as suas virtudes; com seus erros, negligências, imprudências, e loucuras.
Existem os pais saudáveis!
Existem os pais insanos!

Mas todos eles são pais...

Por mais defeitos que eles tenham, ou que sejam renegados,
antes de serem pais, são também seres humanos!
Humanos são imperfeitos!
E nós, quão perfeitos somos?
Que erros já cometemos?
 Que detalhes esquecemos?
Que momentos sufocamos?
Razões nós sempre teremos;
 de acusar, de reprimir, de revidar, de rebuscar.

Que fique um bom momento como feliz convivência!
Que fique a decepção como uma grande lição!
Mas sempre que for possível, afaste os maus sentimentos que você ainda guarde dentro do seu coração.

Estamos todos unidos!

Sendo pai ou sendo filho, todos nós somos irmãos.
Com todos os nossos defeitos, com muitas honras ou não.

Quem sabe, num derradeiro e num último suspiro;
num apelo sem resposta; se ouça a palavra: perdão...


RRS, 10 ago. 2014

sábado, 9 de agosto de 2014

Pretensões poéticas


Quem dera eu seguisse só um pouco, 

de tudo aquilo que escrevo em poesia.


E eu seria o mais feliz dos homens!


Quem sabe um amoroso amante num fonte

infinita de prazeres?




Ser um rio, todo cheio de virtudes!


Ou um mar, todo cheio de esperanças!




Mas sou apenas um espelho quase  plano, 


tentando refletir o refletido...

Um retrato um tanto envelhecido, 

cujas imagens guardamos em lembranças.




É ser real sem viver a realidade!


É nos fazer estar aqui neste momento,


E ao mesmo tempo pertencer à eternidade...




RRS, 8 ago. 2014

quarta-feira, 30 de julho de 2014

POR AMOR


Fazer por amor!
Não importa a crença,
Não importa o estilo, não importa a cor.
O que importa mesmo é a atenção.
O que vem bem lá de dentro do seu coração.
É como o mundo todo existisse em você!
E você fosse o mundo, confundindo-se no ser.
Perceber a alegria, a dor e o prazer.
Porque amar é se doar, se diluir, se expandir!
Se misturar, multiplicar, se dividir.
É se reconhecer como tudo e como nada!
Estar em todos os lugares e em nenhum...
E ser todos de uma vez e não apenas um.
Fazer por amor, estar no amor...
Não ser nem escravo e nem senhor!
Apenas realizar, harmonizar, energizar, fluir.
E nas sintonias do viver, é como se ligasse a tudo!
Num único lugar, disperso...
É focar o mundo inteiro em sí,
Mas se sentir como se fosse o universo...


(RRS, 29 jul. 2014)

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Do riso

Ria de você mesmo! 
Ria do outro!
 Ria do mundo!

Mas sempre, sem menosprezá-los!
Porque na vida tudo apenas passa;
e mesmo que não tenha muita  graça,
vale a pena rir: rir por rir, só por um momento.

Sempre que puder evite a dor,
mas aprenda com ela, sua sentinela,
a prestar atenção nas cercanias.

Acenar para o belo, cheio de alegrias;
evitar o mal e a ameaça.

E mesmo não exista qualquer graça,
vale a pena rir: rir por rir, só por um momento.

 Mas não humilhe e não desconsidere,
porque todos temos as nossas razões:
de existir, de acontecer, de se expressar.

Afinal, todos procuramos ser felizes;
sem decepções, sem mágoas e sem amarguras.

Arriscando em nossas aventuras,
buscamos o equilíbrio, o sensível e o amor.

Então, ria muito de tudo!

Muito respeitosamente, reverente, bem humorado.

 Mas não se iluda, alguém vai também rir de ti!

Porque não é a toa que estamos por aqui!

Fazendo coro numa mesma estrada.

Tornando mais alegre nossa caminhada.

(In memoriam: Ariano, poeta do riso e do sonho).

24 jul. 2014. RRS 
  



domingo, 29 de junho de 2014

VENERAÇÃO

A veneração dos antepassados é ritual milenar.
Lembrar, admirar com respeito os que fazem parte de nós.
Pequenos gestos e trejeitos que não sabemos direito como justificar.
Modos de falar e agir, que aparecem aqui e ali; 
Em algum filho, num neto ou até mesmo num bisneto.
Aquele sorriso da mãe, aquele andar do seu pai,
Aquele olhar do vovô, a dedicação da vovó.
Ser mais lento ou muito rápido, ao decidir sua vida.
Chorar muito ou chorar pouco, numa decepção.
Ser manhoso, ardiloso, divertido, ou ser durão.
Ser teimoso, ser solícito, gostar de plantas e bichos.
De onde vêm esses gostos, manias e sentimentos?
 Geneticamente, a resposta.
 Ou será imitação?
 E conhecer um novo lugar tendo a sensação de ter estado lá?
Será que os nossos genes poderiam explicar?
 É coisa de sangue! De linhagem! De família!
 Bruxaria, feitiço e simpatia!
 Oração, oferenda, maestria.
 Quantas coisas nós fazemos no nosso dia-a-dia
que mostram facetas da gente?
 Ás vezes muito curiosas; e às vezes, muito  diferentes?
 Está tudo no passado! Parece bem coerente...
 Mas pare um pouco e pense!
Só podemos ser agora, no momento, no presente.
 Não podemos ser o ontem! Nós o fomos, já passou.
 Eu olho pra minha mãe, eu olho para o meu pai;
 Eu olho pra minha avó, eu olho pro meu avô.
 O que eles são? Ancestrais? Referências? Guardiões?
 Que lições me ensinaram? Que lições eu aprendi?
 Por que esperar que morram para serem venerados?
 Vou acender uma vela! Comprar um ramo de flores!
 Reformar o monumento! Chorar, comentar lembranças.
 Abrir álbuns, saber nomes; locais, cenas e fatos...
Passado, passado, passado.
 Meu caríssimo amigo:
 Cadáveres não curtem rosas!
 Ossos? São partes da terra...
 Demonstre seus sentimentos nesse momento e hora!
 Dê um beijo! Um abraço!
 Apenas um aperto de mão;
 Um olhar, uma esbarrada,
 Não espere que morram, para dizer quanto os ama.
Diga agora! Faça agora!
Ou eles irão embora...

domingo, 4 de maio de 2014

MAIS UM DIA.


Mais um dia: para saber se sofro e fico aqui sozinho;
Com meus problemas, meus dilemas, minhas fantasias.

Mais um dia, para decidir se aprendo ou ainda insisto
A ficar aqui me condoendo, gerando bile, ácidos corrosivos;
Que comem por dentro toda a minha carne,
E desajustam por fora toda a minha alma.
Que levam para longe toda a minha calma;
Que impedem os meus gestos mais puros e expressivos.

Mais um dia para me enfrentar de novo.
Saber se vou me permitir me olhar no espelho;
Se vou pintá-lo de azul ou de vermelho;
Com o meu corpo leve ou hemorrágico.

Mais um dia; para acreditar que algo existe.
Que é muito forte e muito poderoso;
Que me guia, mas que também me exige
Que eu caminhe com os meus próprios pés.

Mais um dia; até que chegue a noite e eu tenha um novo desafio:
Entregar-me no escuro e no vazio que já existe em tudo e em todo lado.

 Mais uma noite, e vou esperar o amanhecer...
Esperar um abraço de esperança,
Que às vezes nego me apertar com muita força
Me incentivando a jamais não desistir.

Mais uma noite...
E uma nova chance para perceber;
O que o Todo me oferece outra vez.
Para refletir que somos imperfeitos; que errar faz parte de nossas vidas;
Que podemos corrigir nossos enganos...
Mas é que, às vezes, não nos perdoamos,
Como se não fôssemos mundanos, em nossas peles frágeis e feridas...

Quero refazer os meus caminhos,
Mesmo com as pernas cheias de espinhos!
Mas vou prestar mais atenção por onde ando!
Com quem ando, e para quê!

Mesmo aos tropeços, vou refazer meus pensamentos;
Porque o mundo é feito de momentos, o dia, a noite, o frio, o quente.
Vou decidir me levantar em prece, caminhar para fazer o bem.
Ajudar, oferecer e perdoar.
Porque sempre existirá mais uma chance.
Para crescer, evoluir e refazer.

O mundo em que vivo não é perfeito, e eu faço parte dele também.
Posso errar algumas vezes, mas não devo repetir os meus enganos,
Que tantas vezes só me fizeram chorar...

Vou despertar para a minha própria vida, ressurgir, me transformar.
Meus olhos brilhando de novo, os meus sorrisos vão voltar.
Não julgarei mais ninguém e vou sempre agradecer!
Estar na escola da vida, cicatrizando feridas que muitas vezes causei...
Que saia de mim qualquer ódio, raivas, ressentimentos.
Meu corpo limpo, vibrante; cheio de luz, envolvente.

O vazio me aguarda: espera a minha decisão.
Eu escolho o que eu coloco nele:
Toda a minha mágoa, ou todo o meu perdão...
Todo o meu amor ou todas as minhas cobranças;
Todos os meus pequenos sonhos e as minhas grandes esperanças.


(RRS, 4 maio, 2014)

sábado, 5 de abril de 2014

Aparências

O que você faz com o coração: fica!
O que você não faz: passa!

Uma coisa é ver crescer uma árvore.
Outra coisa, é passar por ela.

Uma coisa é construir uma casa.
Outra coisa, é olhar pela janela.

O mundo é sempre o mesmo,
Visto de qualquer lugar;
Mas o sentimento é diferente!
Num, você apenas vê.
Noutro, com certeza sente. 

Então, há coisas no mundo,
Que são - aparentemente - o que achamos que é,

Mas se olhar com cuidado; preste bastante atenção!
Umas são para o olhar, outras falam ao coração.

A escolha é sempre sua: apenas ver ou sentir.
As duas fazem chorar, e podem nos fazer rir.
Mas grande diferença está na continuidade.

Uma se acaba logo; a outra, dura de verdade.

Uma, é só uma cena.
A outra é a eternidade.

(RRS, 05 abr. 2014)

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Sonhar é preciso

É preciso existir uma utopia,
Para que se pense nela a cada hora,
Sem saber se vai ser real ou não.

Precisamos de um sonho a cada dia, 
Desde o nascer do Sol ao alvorecer.
Não importa se eles não vão acontecer.
Sonhos são sonhos, sem qualquer obrigação.

Faça coisas, realize, mas não deixe de apostar
Que algo mais vai acontecer um dia:
Um dia, um dia, um dia...

Pode ser até amanhã! Quem sabe?
As oportunidades podem surgir do nada...
Podemos encontrá-la numa esquina.
Numa curva, numa loja, numa estrada.

Importa mesmo é viver esta tensão.
Chegar num lugar ainda não chegado.
Escrever um livro ainda não pensado,
Um horizonte bem distante, bem distante.

Se você alcançar tudo o que quer,
Quem sabe chega logo um vazio,
Nos isolando, sem nada de estimulante?

Então amigo: sonhe, sonhe, sonhe, sonhe.

E mesmo que nada venha a ocorrer,
Você tentou, viveu, acreditou...

Melhor conviver com a incerteza!
Pois ela muda e muda, a cada tempo.
Melhor vibrar num mundo renovante,
Das dúvidas,  das apostas de vencer.

Quem sabe, você se surpreenda!

De tantos e tantos sonhos acumulados,
Talvez um se concretize, com alegria.

Comemore! Brinde, chame os amigos!

Diga-lhes que tudo era antes, sonho;
E agora, uma realização...

Acredite em você mesmo!

Quem não sonha, vive estristecido:
Pequeno ou grande, sonhe sempre!

Brilho nos olhos, acelerado o coração.

Ao conquistar um desejo muito antigo,
Compartilhe os seus sonhos, meu amigo;
Divida todas as suas emoções.

As utopias não são ilusões perdidas,
Elas alimentam as nossas vidas,
E enchem de esperanças os nossos corações.

(RRS, 29 jan. 2014)