quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Caminhar


Colaborador Roberto Rocha

Não basta que existam mil caminhos,
Nem mesmo somente muitos pés sozinhos,
Pois o fato, depende da vontade:
O caminhar, com ou sem sapatos.

E bem mais que apenas a matéria,
Com suas árvores, seus enfeites, couro, saltos;
O que se precisa mesmo nessa hora,
Vem lá de dentro, mas não vem de fora,
Em algum momento dessa nossa vida.
E acontece quando tiver que ser!

Longa ou breve na sua jornada,
A criatura precisa ser testada
Em sua coerência e seu discernimento.

Vagando em trechos claros e escuros,
Volta e meia encontramos muros;
Uns muito altos, outros quase chão.

Com os pés sangrando e as tiras finas,
Vamos dobrando cantos e esquinas,
Vencendo lamas, pedras, buracos, valas.

E eis que chegando perto,
Faltando atravessar só um deserto,
Do destino, alguém nos oferece água.  
E profetiza: você já cumpriu uma grande jornada!
 Descanse um pouco, nobre peregrino!
Repouse à sombra, desfrute do abrigo.
Mantenha a esperança e o amor contigo,
Que Ele o guiará até o fim da estrada...

domingo, 15 de dezembro de 2013

Respeitar a natureza é respeitar os nossos ancestrais



Colaborador Roberto Rocha

Sempre que qualquer pessoa deixa de ser gente e volta a ser ambiente, do ponto de vista material, vem a idéia de associar a natureza aos nossos ancestrais. Quem são eles? Onde estão agora? Se a Lei de Lavoisier estiver correta, então eles continuam por aí, em milhões de pedaços moleculares, nos corpos dos passarinhos, dos vermes da terra, das bactérias, de outras pessoas, nos rios, no ar e onde quer que seja possível existir a natureza. Num momento em que até mesmo o respeito pelas pessoas vivas torna-se um grande sacrifício, entendo que pensar em ancestrais pulverizados pelo mundo possa ser algo quase impossível de desejar e perceber. Mas é assim que funciona! Nossos ancestrais estão mesmo por aí, nos depósitos de sedimentos da geosfera, nos gases da atmosfera, dos rios, dos oceanos e dos corpos de seres, os mais diversos.  Quando são "enterrados" em campos próximos de onde sempre moramos, esse ritual tem um significado muito sagrado. É como se tudo que plantamos, colhemos e comemos fossem um pouco de parte deles voltando a circular entre nós. Daí a água e o alimento dessa terra serem sagrados e venerados. É como se estivéssemos outra vez na presença deles. Eles voltam a fazer parte de nós. É como o leite que faz crescer a criança nos primeiros dias de vida. É uma doação imediata. Só as mães possuem esse sentimento de "construção" com amor. Quando nos referimos à Terra como mãe, é nesse sentido que estamos falando. Ela nos nutre com os nossos ancestrais e dos corpos mineralizados de tantas outras criaturas que já não estão entre nós com suas formas convencionais. Nem todos os povos podem perceber isso com a devida rigorosidade. Somente aqueles que são nativos ou indígenas é que podem vivenciar esta experiência. Mesmo assim, terão dificuldades se forem alijados de suas terras e afastados por diversos motivos, menos os sagrados. Fica difícil para um exótico ou alienígena entender esse processo; tal como ocorre com os brasileiros de genética européia morando no Brasil. Por exemplo, os meus ancestrais são portugueses. O pó e a água dos seus corpos estão por lá. Pode ser que eu volte a ter contato com algum deles, caso coma ou beba alguma coisa importada de Portugal, próximo das terras onde eles viveram. Quem sabe um vinho? Um azeite? É aquela antiga explicação que fala do retorno ao pó. Mas não estamos falando de qualquer pó. São os nossos ancestrais que podem estar representados nele. É a certeza de que existe algo sagrado e respeitoso sempre que formos beber a água de um córrego, comer um fruto ou respirar o ar de nossa terra natal. O fato de termos invadido uma terra que era de outros, não nos deixa clara a necessidade de cultuarmos a natureza como algo santo. Talvez isso explique o descaso pelos nossos rios, pelas nossas florestas, pelos nossos animais nativos - que foram substituídos pelas criaturas do Norte, hoje espalhadas por todos os biomas do país, incentivado pelo lucro alto e um PIB gordo, alimentado por pasto também exótico farinhado. Talvez as próximas gerações de brasileiros compreendam o que os "índios" sempre priorizaram: o respeito aos ancestrais e à natureza que é feita deles também. Se não aprendemos a respeitar a vida em geral como algo sagrado, quem sabe possamos ver o mundo diferente se tivermos alguma consideração pelos nossos ancestrais mais recentes, mesmo sendo eles pobremente representados por duas ou três gerações apenas. O que pensar dos indígenas autênticos da terra que tinham aqui o pó de milhares de anos de ancestralidade? E a maior parte deles foi exterminada por motivos econômicos. Me sinto um pouco cúmplice dessa realidade, embora o momento em que isso ocorreu talvez fosse justificado por outras razões, as mais coerentes. Mas não adianta "chorar leite derramado"; mas cabe sim  uma profunda reflexão sobre esses fatos. Para que não nos tornemos máquinas de carnes insensíveis, estimuladas por outras máquinas, computadorizadas, desprovidas de sentimento e de passado. Apenas vivendo momentos, forjados, artificiais, decompromissados.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Luzes e sombras




Sou um caçador de almas, de formas e de movimentos.

Do que o tempo congela em breves momentos:
do nascer, do crescer, do amar.
Paralizar algo paralizante.
Espaços, fatos e cores;
Sorrisos e raivas; desapegos e amores.


A natureza em ação!
A força dos ventos e dos oceanos.

O arrebentar a semente, as borboletas pelo chão.

Os pássaros multicores, os frutos e as flores.


Parar a vida num clique: mas não qualquer clique!...

Um que faça brilhar olhos, e que alegre o coração.

Que fale mais do que mil palavras,
Que não discrimine o pobre e nem o xingue.

Todos iguais, num mesmo plano.
Como se fosse a última canção.

Num irretornável festejar de fim de ano,
Ou num último bater do coração...
(RRS, 6 jan. 2013)

sábado, 2 de novembro de 2013

A cruz do outro

Não carregue a cruz do outro!
Apenas ajude a confortá-lo...

Não carregue o peso que não é seu!
Mas ajude alguém a aliviá-lo...

Não chore por alguém que partiu!
Recorde os bons momentos...

Não lamente os maus encontros!
Você fez parte deles...

Não reclame da vida!
Ela sempre foi sua...

Use o tempo para o bem,
Porque o mal sempre está atento.

Não julgue o que não sabe:
Palavras enganam!

Procure ver com os olhos da alma,
Porque a visão ocular pode nos enganar!

Não sinta inveja do alheio,
Aprenda com quem faz direito.

Não carregue o mundo nas costas,
Ele é muito pesado!

Sorria sempre que possível,
Nenhum mal dura eternamente!

Seja otimista com você mesmo,
O mundo vive muito ocupado!

Fale com Deus sempre que puder,
Ele entende você mais do que ninguém.

Nunca deixe de corrigir seus erros,
Porque eles sempre vão nos ensinar.

Seja um bom aluno, aplicado.
E jamais deixe de estudar.

Mestre não é aquele que ensina.
Mestre é o que aprende ao ensinar...

(RRS, 6 out. 2013)

sábado, 29 de junho de 2013

Vivo, energizado, pensante.

 
Eu sou ambiente vivo, energizado, pensante.
Bolha dágua falante, andando por aí.
Meus gases se misturam dentro e fora.
Eu troca com a atmosfera a cada hora:
Inspiro, expiro, respiro.
 
Sou DNA de fósforo circulante;
Do guano branco das ilhas Cagarras,
Das aves predadoras oceânicas;
Dos peixes comidos e descartados.
 
Sou carbono das plantas de carvão;
De seus cadáveres que fabricam aço
Com as montanhas de ferro mineral.
 
Os meus ossso são feitos do calcáreo
Que o intemperismo forjou pela erosão.
  
Tenho inveja das plantas leguminosas,
Que fabricam suas folhas tão gostosas
Com as moneras amigas, generosas.
 
Mas eu vivo matando criaturas
Para moldar meu corpo plastificado.
Minha estrutura proteica organizada.
 
Mas apesar de tanta transformação,
Possuo alma, tenho sentimentos!
Falo com Deus!
Com as águas e com os ventos,
Com as montanhas, com os rios, oceanos...
 
Meio sagrado e também meio terrestre,
Às vezes pó, às vezes celeste;
Bem diferente de tudo mais,
Das muitas plantas e dos muitos animais,
Eu sei que "sou" em vez de "apenas ser".
Eu sinto a força e a energia.
 
Sou instrumento de uma inteligência,
Inexplicável, através do espaço.
 
Eu sou um "todo" mesmo sendo parte,
Uma verdadeira expressão da arte,
Sou a intenção de um amor multivagante.
 
Sou breve sopro que a brisa sopra.
Numa espiral eterna e sagrada.
Sou todas as coisas numa só coisa.
Mil posições na imensidão do nada.
 
(RRS, 29 jun. 2013)

sábado, 20 de abril de 2013

Queimando o pavio



Nossa vida é um pavio que queima (se manifesta) sem parar desde que nascemos, e que apaga-se (desliga-se) quando desfazemos o nosso compromisso dual. Não sabemos por quanto tempo nosso pavio queimará, sejamos jovens ou não. Mas aprendi - depois de muitos anos de experiências diversas - que a vida é algo sagrado, e precisamos valorizá-la cada momento, em cada respiração. Entre o momento em que o ar preenche os nossos pulmões, e até uma nova inspiração, é como que morrêssemos provisoriamente. Não temos nenhuma certeza de que voltaremos a fazê-lo com o mesmo êxito. Apenas uma forte esperança de que isso aconteça. No entanto, nos acostumamos com esse ato e não prestamos atenção para um  simples e tão importante detalhe. Mas existe sim uma interrogação: vou respirar outra vez? Ou melhor: vou continuar vivendo? Meu pavio continuará a queimar ou se apagará?  Nesse breve intervalo, entre o inspirar e o expirar, está toda a nossa vida. Todas as nossas memórias; todas nossas conquistas e frustrações. Após o retorno da inspiração, ganhamos mais um momento; e a certeza - agora sim - de que ainda permaneceremos por mais algum tempo nesse mundo de relações diferenciadas. E o que você faz a cada momento que a vida lhe é oferecida com uma dádiva? Que qualidade você atribui à queima do seu pavio vital?  Ele queima com nobreza? Queima com bom humor? Com alegria? Com entusiasmo? Com honestidade? Com bondade? Com sabedoria? Com humildade? Com desapego? Com generosidade? Com amor? Se a resposta é sim, então: bravo! Você sabe queimar o seu pavio com inteligência. Ou será que você não costuma valorizar cada momento que respira, e vive atormentando a você mesmo e aos outros? As atribulações da vida vão sempre existir, porque a próprias natureza - que é sagrada - tem também seus momentos de instabilidade. Mas perceba que é para uma renovação. E logo tudo volta ao equilíbrio, à homeostase. Precisamos sim interferir regularmente com algumas ações, e elas gerarão novas respostas e reações. Reação é agir outra vez conforme cada solicitação que nós é apresentada. Não devemos agir como insensatos e desatentos. Precisamos sim nos preocupar em queimar nosso pavio com uma atenção especial, e não como uma queima qualquer. O medo do futuro não é uma sensação ruim. Ele nos sinaliza para evitar inconsequencias, às vezes drásticas. Devemos aprender com ele mas não permitir que nos domine. Quem deve ficar no controle somos nós, mesmo em sua presença! Eu também tenho os meus medos; e nem por isso deixo de viver a vida. Fantasias e sonhos exagerados podem nos decepcionar, mas somos nós mesmos os seus incentivadores porque passamos dos limites do bom senso e da coerência. A vida é uma oscilação de ações e reações. Se entendermos isso seremos mais felizes dentro de um quadro geral que almejamos com  projeto de vida. Acho que já passei da metade do meu pavio, com 67 anos de idade incompletos: a não ser que eu viva mais de 120 anos! Com certeza, cada vez mais, me preocupo com a qualidade de queima do meu pavio. Se estou no metrô ou num ônibus, aproveito cada momento, em vez de apenas "esperar chegar até o fim da linha".  Eu leio um livro interessante. Observo as pessoas ou falo com elas. Planejo o meu dia. Olho as árvores e tudo que possa representar a natureza selvagem, se ela existir por perto. De modo algum vou queimar o meu pavio remoendo mágoas e dores. Relembrando sofrimentos do passado e ódios retidos. Telefonar para ameaçar ou bajular alguém. Disseminar mentiras e engôdos. Se eu não zelar pela queima do meu pavio, quem o fará? O passado já queimou! Não voltará mais! O futuro mais interessante é o que está ocorrendo aqui e agora, na queima do meu pavio, nesse momento. E você: como está queimado o seu pavio? Desejo-lhe uma boa queima...

(RRS, jan.2013)

sábado, 23 de março de 2013

O laço e o nó.


Num dia de muitos embrulhos, o laço perguntou para o nó:
como vai você amigo nó?
Ao que o nó respondeu: estou firme como sempre!
E você, como vai?
Vou mais ou menos, respondeu!
Como assim, mais ou menos?
É que eu sou um laço!
Não posso viver apertado demais. Esse é o meu destino...
Se estiver muito firme, deixo de ajudar as pessoas.
Quando alguém faz um laço é porque não deseja apertá-lo:
é uma questão objetiva
Ora! Retornou o nó: quem vai desejar algo frouxo?
O laço respondeu: depende de cada caso; já imaginou um presente todo amarrado e todo reforçado?
A ansiedade de saber o que um pacote contém não quer empecilhos pelo caminho. Muitos nós só adiariam o grande momento!
Os laços não impedem o acesso ao presente, mas também não deixam de resguardá-lo e mantê-lo seguro.
É mais delicado! É mais gracioso! É mais simples!
Ora, ora. ora !
 Mas ninguém quer um embrulho mal feito, disse o nó.
O laço continuou: mas eu não disse que o presente estava mal embrulhado!
É que o momento pede algo não tão rigoroso e radical.
É isso: uma questão de conveniência!
Se eu apertar muito, não serei mas um laço, eu serei um nó!
Eu preciso cumprir o meu papel aqui e agora: ser apenas um laço.
Não estou aqui para me gabar do quanto sou firme ou forte.
Sou apenas um pequeno detalhe na vida de duas pessoas:
a que presenteou e a que recebe o presente.
Minha felicidade maior está em permitir e facilitar este momento mágico da doação, do carinho e do amor.
É assim que eu sou feliz!
Pode ser que um dia alguém me transforme num nó. 
Se assim tiver que ser, eu terei uma outra missão, e não serei mais um laço.
Quem sabe eu até me acostume com a idéia e com o meu novo objetivo?
Por enquanto, desejo apenas ser um laço, envolvendo presentes; sendo feliz nesses breves momentos de alegria e de satisfação.
Não me entenda mal, amigo nó! Ambos somos importantes, mas cada um deve entender o seu papel nesse contexto.
Siga apertando e eu sigo afrouxando.
Você, para garantir que alguma coisa não se abra facilmente;
e eu, facilitando o acesso ao que quer que seja.
É por isso que sou diferente no que faço:
você é um nó, e eu sou um laço... 
(RRS, jan. 2013)

sábado, 2 de março de 2013

O construtor de pontes

 
Era uma vez um construtor de pontes que havia dedicado boa parte de sua vida a ligar pontos de difícil acesso por cima de rios. Estava no meio da ponte olhando sua última obra quando um transeunte o reconheceu e lhe perguntou: o que está admirando? A sua obra? O rio? A resistência da ponte? Ou apenas medita sobre tantas outras pontes que deverão ser construídas? Ele desviou o olhar do infinito e disse: eu não construo pontes para ninguém! Não sou dono da obra e nem sei por quanto tempo ela resistirá ao tempo e às mudanças. Muitas pessoas acham que quem constrói uma ponte tem todas as certezas do mundo e que detém a segurança de que ela não vai cair um dia ou que poderá ser ameaçada. Não é bem assim! As pontes não são construídas por uma única pessoa. São milhares e milhares delas a contribuírem para uma mesma obra. Basta uma falha num setor importante e a boa intenção inicial pode se transformar em uma onda de frustrações e desentendimentos. Nós apenas tentamos seguir a coerência histórica das construções. Isso não significa que elas serão sempre coerentes. Onde existir mais de uma pessoa sempre poderá haver discordâncias. E tanto mais discordâncias quanto mais radicais forem os argumentos. Mesmo nas discordâncias precisa haver coerência. As pontes podem ser feitas de diferentes materiais e nem por isso podemos dizer que sejam frágeis. Existem pontes de raízes de grandes árvores que podem durar centenas de anos, e outras feitas de aço que podem não resistir a um século. Tudo é muito relativo e depende de outras conjunturas que podem influenciar de forma decisiva o destino de uma ponte. O que conta mesmo é a boa vontade e o desejo de que ela possa servir para ligar pessoas e nações. Os outros detalhes podem não ser tão relevantes. Você conhece uma ponte mais perfeita do que a que liga as pessoas pelo amor? As pontes que ligam as pessoas pelo perdão? As pontes de compreensão? Elas não são feitas de concreto. São feitas de gente. Depende apenas de decisões em nossas mentes. Quando se luta por uma convicção e uma certeza, corremos o risco de enfrentar outras convicções e certezas iguais ou maiores que as nossas. Talvez em lugar de convicção devêssemos valorizar a reflexão de cada um, sem uma doutrina dirigida e condicionada. Se for verdade que cada um de nós possui uma parte sagrada, porque não confiar com fé que ela nos mostrará o caminho da coerência tão procurada? O caminho da paz, da sensibilidade pelo outro como criatura de Deus, e não exatamente por sua ideologia. Devemos construir pontes para todos, indistintamente. Não devemos exigir passaportes especiais para quem deseje atravessá-la. As pontes precisam de uma liberdade responsável. E a liberdade é algo inerente e próprio de cada um. Não pode ser negociada, nem vendida e nem alugada. É um direito universal. Se desejamos construir pontes universais, há que respeitar a liberdade de cada um para escolher como deseja atravessar a ponte, e quando deseja fazê-lo. Também não devemos inquirir sobre as suas razões de travessia. São motivos particulares. É praticamente impossível que todos tenham as mesmas “certezas” sobre qualquer coisa do mundo. Cada pessoa, ela mesma, já é um mundo. Como controlar mundos dentro de mundos? Como convencer a cada um que os meus argumentos são melhores do que os deles? Por que a razão deve estar somente comigo? Se nós viemos das poeiras estelares, então isso quer dizer que todos nós somos estrelas. Temos os mesmos direitos de brilhar e de se apagar quando chegar a nossa hora. Por que não brilhar todos juntos, cada um com sua luz própria? Por que tem que ser somente com a minha luz? Que caminho desejo eu iluminar? Será o meu desejo o mesmo desejo de todos? Brilhemos todos juntos! E a luz vai ser tão forte que eu não duvido que o próprio Deus se apresente a cada um de nós, de uma forma especial, tocado pela espetacular prova de humildade e de compreensão da humanidade. Hoje, pode ser apenas um desejo. Mas qualquer mudança precisa de um desejo inicial. De uma vontade. De uma intenção. Então, construiremos a ponte mais perfeita do mundo. Um construtor de pontes de rios é apenas um construtor de pontes de rio. Construir pontes de almas é algo bem mais complexo. Eu estava aqui pensando justamente isso: o quanto sou limitado nas minhas obras. E pensar que as pessoas me conhecem apenas pelas pontes sobre rios. Que bom que eu soubesse como construir pontes verdadeiras que ligassem realmente as pessoas, e não exatamente apenas locais. Talvez a obra mais difícil seja acessar o interior das pessoas. Mas isso seria bem mais fácil se elas mesmas desejassem isso com muito amor, de livre e espontânea vontade...
 
(RRS, 27 fev. 2013).
 

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Pirotecnia


 
O mundo passa por uma tremenda transformação. Nossos próprios sentimentos mais íntimos e sagrados não são mais valorizados como manifestações de êxtase e realização plena. Nossas luzes interiores não conseguem competir com a parafernália tecnológica de cores e efeitos diabólicos. O silêncio interior é coberto ruidosamente pelas distorções sonoras. A graça do movimento corporal educado foi substituída pela loucura drogada dos gestos desequilibrados. Que pena! A ilusão dos olhos e dos sons nos tomou de tal forma que parece que perdemos a nossa dignidade humana e o respeito a nós mesmos. Tornar-se artificial? Cultuar o ilusório e o efêmero? É isso que chamam de “alegria”? Que tristeza! Em nome de que adjetivo pode ser justificada a perda da vida? Por que temos que ampliar as nossas percepções naturais através de buscas inéditas e chocantes? Por que não perseguir um novo estilo de vida, mais “zen”, mais calmo, menos tumultuado? Precisamos retornar ao culto interior de nossa alma. Não nos deixar iludir nem ser anestesiado com motivos muito além de nossa sensibilidade equilibrada. Até quando vamos continuar a sermos cúmplices de insanidades orquestradas? Deveríamos nos unir nesse momento não somente para chorar ou orar; deveríamos refletir sobre a necessidade pensada de mudar essa loucura que é o mundo atual, cheio de apelos e fantasias por demais ampliadas. Por que não valorizamos a calma, a serenidade, o silêncio respeitoso? Podemos ter músicas e danças nesses eventos. Mas não qualquer música e não qualquer dança.  Mais qualidade e menos futilidades. Mais do que fiscalização e de regras de segurança, precisamos de medidas morais urgentes. Não existem incompatibilidades entre o cantar, o dançar, o brincar e o divertir-se. Mas resta perguntar: que tipo de canto? Que dança? Que brincadeira? Que diversão?  A juventude é um período maravilhoso, mas pode se transformar num pesadelo inesquecível! Acordar é preciso, desse sonho entorpecido pelo pós-modernismo deslumbrantemente enganador e equivocado. Por quanto tempo ainda?
RRS, 28 de janeiro de 2013