segunda-feira, 27 de setembro de 2010

ENTRE VÃOS

Do sofá, eu vejo a ponte pelas grades,
Como num quadro: emoldurado e fixo.
Que não deseja prender, só proteger:
Proteger da queda, proteger do abismo...

E lá longe, as rodas que não param de rodar.

Pela ponte, espetada no azul marinho,
Passam carros, com muitas vidas passando.

Alguém passa acompanhado, mas passa também sozinho,

Como passam os passarinhos: voando, voando, voando.

Paralelos e entre os vãos, passam outros, navegando.
E quantos, e quantas, passando...

E eu, entre os ferros, vejo tudo isso!.

O que será que as pontes unem?
Só uma cidade a outra?
Pessoas com outras pessoas?
Negócios? Vícios? Esperanças?

Grades que nem sempre prendem.
Pontes que nem sempre ligam.
Passam velhos, passam adultos e crianças.

Alegres, doentes ou sofridos...

Da ponte, não vejo as grades;
Mas através das grades, vejo a ponte.
Pequenos vãos entre barras, deitados na horizontal.
De um pequeno trecho de um quadro, retangular, vertical.

RRS, 23 jan 2010

Obs.: Olhando para a Ponte Rio-Niterói, por entre as grades da sacada do apartamento.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

A ESTRADA

O caminho se faz ao caminhar !
A cada passo, a cada pisar,
Em cada esquina e em cada olhar.

Não sabemos bem quando parar;
Apenas fitamos o horizonte ou o mar;
Não há destino algum para chegar.

A própria estrada é o lugar,
De se fazer ou de recomeçar;
Nunca de desistir, nem de recuar.

Cada um de nós é uma estrada;
E por nós, passa cada um em sua caminhada,
Que precisa prosseguir numa jornada,
Procurando conhecer e descobrir.

Seja uma boa estrada – ó caminheiro camarada !
Ajudando os outros a seguir!

RRS, 17 jul. 2009

terça-feira, 7 de setembro de 2010

OLHAR O OUTRO

Olhar no outro uma dor sentida,
Ou disfarçada, ou até dorida,
Mostrada às vezes, às vezes, escondida,

Esse olhar no outro, é olhar o outro.

Perceber a tristeza num sorriso,
A alegria aparente, deturpada,
Procurar lá dentro, bem lá dentro,
Querer ver alguma coisa, sem ter nada.

Preencher no outro esse vazio,
Custa muito pouco ou quase nada!

Porque também podemos ser o outro;
Sobrevivente, a sobreviver,

Visto de lá, tentando nos colher,
Nenhuma fruta, nem algum legume...
Mas o nosso íntimo, nossas razões de ser.

Mas se plantarmos as boas sementes,
Maiores chances teremos pra mudar :
A indiferença, a desumanidade, a insensibilidade,
Em cada frio olhar.

Ao procurarmos o outro em cada outro,
Nós percebemos um outro a nos olhar,
E nesse outro, com seu olhar perdido,
Ao procurá-lo, vamos nos achar.

17 jul. 2004

RRS

sábado, 4 de setembro de 2010

PINTAR COM VERSOS

Eu pensei.
Mas pensamento não é ato,
Se não caracterizá-lo em fato,
Torná-lo realidade...

Eu sonhei,
Mas sonhos são meus breves sentimentos,
Que me afloram à noite, recatados,
A me trazerem prazeres e tormentos.

Eu pretendi,
Mas pretensão também é passageira,
É uma tensão que corre e flui ligeira,
Se não se solta, em atos consumados.

Eu decidi,
E desta vez eu quis:
Pretendo ser feliz,
Errando aqui e ali!

Eu, nessa busca,
Percorro os meus caminhos;
Encontro alguns espinhos,
Mas entre eles, rosas...

Eu como poeta errante,
Vou descrevendo esse meu mundo em versos,
Pintando meus quadros com pincéis e prosas.

A vida é mesmo um grande poema,
E sempre vale muito a pena
Enfrentar cada desafio.

E assim, espalhando minhas palavras-cores,
Vou ocupando espaço por espaço,
A preencher o que resta ainda vazio.

RRS