Estava eu descascando batatas;
E quantas vezes já fiz isso na vida!
Quando atentei para algo inusitado: as batatas não são todas iguais...
Pode rir! É a mais profunda verdade.
Como eu gostaria que todas as batatas fossem iguais!...
Do jeito que eu gosto. Facilitando a minha vida.
Do tamanho exato que eu gostaria que fossem.
Mas, decepção! Elas são todas diferentes.
Podem ser até parecidas, mas nenhuma delas é igual.
Então, refleti como sou egoísta,
Desejando que todas elas sejam do tamanho que eu quero que sejam.
Mas, cada batata, é como é,
Não posso muda-las!
Nem no tamanho, nem na consistência.
Na rapidez com que cozinham; mais doces, mais macias.
As batatas são como são.
Só minha incompreensão deseja padroniza-las.
Então, depois de muito refletir, passei a respeitar cada batata.
Feias, redondas, bichadas, verdes, maduras, coloridas ou não.
E desde então, tenho me relacionado melhor com o mundo.
E comigo mesmo.
Entendi que as batatas nascem e se criam conforme suas naturezas.
Talvez, se eu fosse uma batata,
Compreenderia melhor as diferenças do mundo.
Não sei se estaria feliz sendo bichada, ou muito grande e redonda.
Mas eu não teria grande chance para mudar isso.
Apenas ficaria ouvindo as pessoas a me fazerem críticas:
Olha que batata enorme! Eu só gosto das menores.
Esta aqui deve estar verde, com um gosto horrível.
Esta outra é pequena demais!
Olha aqui! Esta está furada! Deve estar podre por dentro!
E eu, ali, quieta; com a natureza e o momento que a vida me ofereceu.
Ouvindo todas aquelas lamúrias e lamentações.
Eu gostaria que as pessoas fossem batatas apenas um dia.
Talvez entendessem porque eu sou assim como sou.
Tenho qualidades e defeitos. Não sou perfeita!
Mesmo sendo rejeitada e menosprezada,
Eu jamais deixarei de ser batata.
E quem não me aceitar: que vá plantar batatas...
(RRS, 10 mar/2020).