sábado, 29 de dezembro de 2012

Os solitários


 
Os solitários aprenderam a amar a solidão.
Não quer dizer isso que não tenham coração
para discordar, repartir, reconstruir.
 
Solitários assumem ser solitários.
 
Por breves tempos,
 por longos tempos,
 toda uma vida.
 
Alguns fecham feridas:
as suas, dos outros, do mundo...
 
Solitários podem amar de verdade!
Percebem a feiura e a beleza;
São sensíveis à alegria e à tristeza:
pessoas, bichos, natureza...
 
Solitários gostam de ficar a sós.
Se é um estilo de vida, não sei!
Já vi estilos mais esquisitos!
 
O que é ser esquisito?
Não ser aceito pela sociedade?
 
Prefiro ser solitário!
Os solitários podem ser pessoas muito alegres,
divertidas e muito interessantes.
Curtem de um modo diferente:
a calma,
o silêncio,
a meditação.
 
Nesses momentos tão sagrados,
ser solitário é uma obrigação.
 
Longe do mundo, distante,
procura ouvir  o inaudível,
ver o que um olho não vê.
Sentir mais que a sensação.
 
Podemos ser o solitário que quisermos,
no tempo e do jeito que entendermos!
 
Só não podemos perder a esperança.
Não se iludir em visões equivocadas.
Não ter medo de atravessar estradas,
mesmo nervosas e loucamente tensas.
 
Eu sou um solitário consciente.
Eu gosto de conviver com gente.
 
Se você é também um solitário,
Guarde um tempo para repartir comigo.
Falar da vida, abrir nossos corações.
 
Os solitários curtem a felicidade,
apreciam boas amizades,
nos intervalos de suas solidões...
 
 
(RRS, 29 dez. 2012)
 
 
 
 

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O mágico de nós

Na busca de compreensão eu estou.
No lamentar a desigualdade desigualada.
Na constatação das injustiças justificadas.
Na percepção de cérebros intoxicados,
incoordenados pelo álcool,
pelas drogas vistas,
pelas drogas assimiladas.
 
Dos jovens que fogem de si mesmo e do mundo.
21 é o século dos desafios!
Dos véus caídos, dos aturdidos, dos transtornados.
Acordar, e tentar dormir de novo, sonambulizado.
 
Mas fórmulas mágicas globais não existem!
Acredito nos mágicos que formulam: cada caso é um caso!
Uma poção para cada um.
Quantas dessas mágicas precisamos?
Quanto tempo para preparar cada mistura?
Quanto tempo dura cada uma?
 
Melhor que cada um fosse o seu próprio mágico...
Com sua própria bebida curativa.
Que cada um fechasse a sua própria ferida,
num processo mundial de salvação.
 
Substituir as indiferenças disfarçadas.
Fingir que não se percebe, percebendo,
em atitudes evasivas, calculadas.
 
Desejar estar vivo, mas morrendo.
Que futuro esse, transformado?
A utopia existe e eu a quero.
O caos existe, nós no meio;
Porque não aceitar o imprevisível?
 
Se cada um salvar apenas um alma,
que seja a sua própria, com urgência!
 
Seremos todos um só mar de assistidos,
cada gota zelando por sua própria gota,
modificando a sua própria essência,
na busca pela paz, pelo amor, pela querência.
 
Então meu prezado mago:
 
Pegue a sua varinha!
Coloque a sua cartola!
Comece a fazer suas mágicas!
Não importa o que vão dizer!
Importa apenas fazer.
 
E o mundo também será mágico:
Faça um teste com você...
 
(RRS, 15 dez. 2012)
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Das lâminas, das pontas e dos territórios.



Existe uma fauna que não vive nas florestas do passado.
Somente em espaços concretados; cada indivíduo, lacrado.

Existe uma fauna que não vive num brejo, num rio, ou num lago.
Uma que não mora nos mangues.
Uma outra que até frequenta as praias.
Costões rochosos, só muito raramente.

Essa fauna passeia pelos mares e oceanos.

Não gosta de desertos fumegantes.

Sente-se mal nas grandes altitudes.

Enterrada no solo? Só com a morte, ou mesmo em pó!

Não curte viver entre folhas mortas, no folhiço, chão da floresta.

Esta fauna está em todos os lugares.
Inventou formas de estar em todos eles.

É a fauna humana!

Não existiam humanos no passado.
Só a fauna dos não-humanos.

Com a nossa chegada ao mundo, nós o desconcertamos.

Nossas ferramentas naturais, unhas e dentes,
Foram todas reprocessadas.

Atirar um galho, ser barulhento, gritar mais alto e arrepiar.
Lascar uma pedra cortante, forjar pontas, superfícies.
Manter o animal distante, quem sabe um inimigo,
Melhor usar uma lança: se corre menos perigo...

Mas a flecha vai mais rápido, mais letal, vara guiada.

Abater presas e estranhos, unhas chatas, dentes rombos:
Que proeza! Não sou carnivoro!
Matadores quase perfeitos, com armas adaptadas.

Seria só para alimento? Que outros usos inventamos inda mais?

Comer só por comer é bem monótono...
A palavra chave é TERRITÓRIO! Nosso mais importante objetivo!

A ONU existe por causa de territórios. Os países também.
Os Estados, idem. Nos municípios não é diferente.
Vivemos em territórios-bairro. E os bairros são territórios-rua.
As ruas são territórios-casa. As casas são territórios-cômodo.
Cada cômodo tem um local que preferimos.

Nós mesmos, somos territórios ambulantes.

Quando estamos na presença de um outro homem,
Nós desejamos, inconscientemente, defender nosso território.
Nosso corpo, nossa mente, nossso gestos, nossas palavras.

Não será qualquer um que ocupará meu território!
Vou examinar cada detalhe! Saber qual o motivo da invasão!

Se somar territórios for interesssante,
Quem sabe, podemos até nos entender?

Buscamos vantagens, segurança, reprodução.
Mais água, mais alimento, mais energia, e...

Mais território!

Amar uns aos outros quer dizer: compartilhar territórios.
Não só entre homens, mas com tudo que viva.

Um mundo sem territórios? Uma utopia ou uma esperança?

Eliminar pontas e garras? As lanças e as flechas? Os furos e os cortes?

O que será do metal viajante perdido na cidade?
O cano fumegante, mecânico ou digital?
A ogiva que limpa territórios imensos?

Mostre os dentes para o inimigo!
Não se aproxime!
Sou agressivo e poderoso! Veja como olho nos seus olhos!

Se insistir, vamos lutar! Que vença de nós dois, quem for melhor!

Mas eis que surge uma idéia! Vamos fazer o seguinte:
Eu arranco cada dente meu; e voce, cada dente seu!
Também arranco cada garra minha; e voce, cada garra sua!

Desdentados e desgarrados, vamos ter uma longa conversa.
Quem sabe, ao final de tudo, possamos viver sem armas?

Mas como será depois? Como justificar a segurança?
A paz, o entendimento, o perdão, a bondade, a justiça,
A tolerância, a amorosidade?

Vamos ter que reprocessar tudo de novo.
Uma nova humanidade, um novo ser.

Enquanto isso, vamos tentando a cada dia,
Antecipar um pouco o que seria
Esse nosso sonho, essa utopia...

(RRS, 19 out. 2012)

































domingo, 25 de março de 2012

Sonhos de um pingo dágua


Quisera ser eu um simples pingo dágua,
Morando no oceano, bem fundo,
Longe das atribulações do mundo:
 Calmaria o dia inteiro !
Mas eis que sou um eterno viajante,
Frágil e esquecido passageiro,
Nessa rota curta,
Descendo a serra, serpenteando.

Nesse meu rio que nasce na montanha,
Vou me enrolando, pelas pedras, espumante.
Me despencando, desabando aqui e ali;
Às vezes brusco, às vezes me acalmando.

Mas sei muito bem da minha sina:
Devo parar com esse meu sonho delirante !

Brevemente, vou me diluir...
Com outros pingos que descem pelos vales,
Seguindo cada um, o seu destino,
Até deixarmos de correr sozinhos,
Sermos um só, na imensidão sem fim.

Vou me envolver com muitos outros pingos,
Ser oceano como no passado,
Certamente, um pouco mais salgado,
Por entre as ondas, com gosto bem ruim.

Mas, tenho certeza, um dia serei lembrado!
E outra vez, faço o mesmo caminho!
Vou viajar nas nuvens com o céu nublado;
Retornar doce, mais uma vez enfim.

Voltar com a chuva,
E escorrer nos troncos,
Cair do alto no chão de uma floresta.
É bom ser pingo nessa imensa festa...

RRS, 25 mar. 2012

domingo, 18 de março de 2012

Quando o amor reinar


O dia em que o amor reinar,
Não teremos mais nenhuma indiferença!
Não cobraremos essa ou aquela crença!
Seremos todos um sentimento só...

O dia em que o amor reinar,
Sempre teremos uma palavra amiga;
Vamos fechar qualquer ferida antiga,
Porque o que importa mesmo é perdoar...

O dia em que o amor reinar,
Vamos ouvir, muito mais do que falar!
Oferecer muito mais do que pedir!
Porque de amargo, já basta o que passou...

Quando enfim o amor reinar,
Vou te pedir que me dê um forte abraço;
Porque não quero eu, aumentar mais este espaço,
Que nos separa, deixando-nos tão distantes.

Enfim, quando  o amor chegar,
Eu vou ouvir todos os seus lamentos;
Os seus motivos e os seus sofrimentos,
Sem cobrar nada, sem nada acusar...

Mais tarde, quando o amor chegar,
Me chame sempre para um papo amigo:
Fale de sí, de mim, errado ou certo!
Porque o que importa mesmo, não são os argumentos;
Importa sim, estar nesses momentos,

Você e eu,
nós dois,
ali bem perto...

RRS, 18 mar. 2012








sábado, 18 de fevereiro de 2012

Conexão


Quero eu levar a luz a todo canto,
para amenizar o escuro, ou algum pranto,
porque a esquecidão pode ser cruel.

Possa eu levar uma palavra amiga,
a uma alma carente ou sofrida,
para que se sinta como que no céu.

Mudar quem sabe, um semblante triste,
enxugar a lágrima, amorosamente.
Fazer sorrir, mesmo levemente!
É bem melhor do que um dedo em riste...

Um forte abraço, cheio de energia,
passando amor, desprendidamente, 
nos faz feliz, mesmo brevemente!

Sentir um Deus também nos envolvendo;
bem ali, presente, naquele mesmo enlace;
nos confortando com sua bondade.

Podemos sim, ser também sagrados;
mesmo mortal, cercado de vícios;
com os pés na terra, como acorrentados,
e o pensamento na eternidade...

RRS, 16 fev. 2012

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Um lugar seguro


Procuro um lugar seguro.
Um ponto de luz em meio ao escuro.

Um sinal, uma voz, um som.

Um lugar tal onde me recolha,
sem tumultos, na calma, na vida.

Procuro nos cantos, nas ruas, nas cidades.

Onde afinal estará esta acolhida?
Que me receba com amenidades,
com abraços, sorrisos, saudades?

Minha busca parece não ter fim!

Já rodei quase todo esse mundo!
Procurando, procurando, procurando...

Só um lugar eu acho que esqueci:
é que só olhei o mundo em minha volta,
e esqueci de procurar em mim.

O que eu queria tanto achar lá fora,
estava o tempo todo, justamente aqui.

Tão perto, tão perto, tão perto...

Pudesse eu viajar pelas estrelas,
e percorresse mil locais incertos,
mesmo assim, nada encontraria...

O que eu preciso não está distante.
Está ao alcance da minha própria mão.

Basta deixar meu peito entre-aberto,
deixar sair minha desilusão.
   
Deixar entrar meu mais novo tesouro:
O meu amor, a minha paz, o meu perdão...

RRS, 20 jan 2012.




  



terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Agradecendo


Se uma flor falasse,
abriria seu coração a cada dia;
agradecendo ao Sol, cheia de alegria.

Se a água falasse,
estremeceria os céus;
pedindo para molhar o chão,
retornando, retornando.

Se a terra da Terra falasse,
Se rasgaria em sulcos;
para convidar sementes,
fazer crescer, crescer, crescer.

E nesse falatório sem fim,
eu perguntaria a mim:
O que devo agradecer a cada dia?
Para quem, quando e onde?

O que devo dizer eu ao mundo?

Quem sabe, repetir, recompensado,
Num reconhecer profundo:
Obrigado, obrigado, obrigado...


13 jan 2012, RRS