Roberto da Rocha e Silva
Certamente, você vai se lembrar de algumas dessas
expressões: meu filho é muito esperto! Você é burro! Olha a besteira que você
fez! Essa sua solução foi brilhante! Como é que eu não pensei nisso antes!
Estava na nossa cara e ninguém viu! Na verdade, essas situações ocorrem quando
você tem algum problema e consegue resolvê-lo com certa facilidade; ou então,
fica dando voltas e não consegue achar uma saída. Pior ainda: faz tudo errado e
ainda causa prejuízos e constrangimentos, os mais diversos. Por que isso
acontece? Você sabe que consegue ter bom desempenho em algumas coisas; mas em
outras, você é uma negação. Será que você não é inteligente?
Em 1983, o
escritor Howard Gardner publicou um livro que apresentava uma teoria sobre
estruturas da mente, mostrando que não existe uma única forma de inteligência.
As pessoas poderiam ser inteligentes numa ou mais áreas sem serem medíocres.
Que alívio! Não sou tão imprestável como meu pai dizia! Ele certamente não
sabia que existem diferentes formas de manifestar “inteligência”. Dessa forma,
o meu cérebro resolveria questões numa determinada área, mas não exatamente
numa outra. Gardner listou sete inteligências: lógico-matemática, com muitas fórmulas e cálculos exatos; espacial-visual, que me dá a noção
exata das proporções e distâncias; linguística,
para falar como um papagaio, arrumar idéias e escrever bem; corporal-motora, para ser o artilheiro
do time e gostar de esportes ao ar livre; musical,
para tocar na banda e fazer um tremendo sucesso; interpessoal, para me comunicar em público, no trabalho sem maiores
dificuldades; intrapessoal, para
conhecer a mim mesmo e saber das minhas fragilidades e potenciais. E, se também
possuo uma visão clara do meu papel no mundo da natureza e não somente no mundo
dos humanos, então não haverá motivos para que eu não tenha sucesso na minha
vida como um todo e não somente “profissional”.
O mundo do trabalho vem preferindo, cada vez mais,
colaboradores que sabem fazer algo muito bem, mas que também não sejam
“criadores de casos”, onde conta muito a sua capacidade de lidar com “pessoas”
– problemáticas ou não e saber controlar suas próprias emoções, não se abatendo
por motivos banais e se adaptando com facilidade a cada novo cenário que se
apresente. É inteligente investir em liderança, colaboração, empatia,
comunicação, persuasão e influência, em relação ao seu ambiente de trabalho. Lidar
com “gente” exige uma inteligência emocional esmerada, tanto do ponto de vista
de você com o “outro”, quanto de você com “você mesmo”.
Quando você começa a perceber que seu
comportamento está diferente é muito provável que algo dentro de você - e não somente
fora – estará influenciando tudo o que você faz e diz, seja para o bem ou para
o mal. Traduzindo: você é “o que você pensa que é”, mesmo não sendo. E tanto
isso será mais sério, quanto mais iludido você for! Se a ilusão te causar
tristezas, você será triste. Se ela te causar alegrias, você será alegre. Tanto
faz ser uma ou outra; todas serão ilusões. No entanto, num ambiente de
trabalho, ou na família, ou em público, você poderá trazer sérios problemas de
relacionamentos ou mesmo pessoais (existenciais) caso escolha colecionar
amarguras e decepções. A inteligência emocional vai permitir que você
compreenda cada contexto e cada cenário, de modo claro e objetivo, não se
deixando levar por armadilhas da vida e seus engodos, que podem detonar o seu
humor, o seu emprego ou os seus sonhos.
A compreensão do papel das “ilusões” em nossas
vidas é muito antiga e está associada aos princípios espirituais. Não podemos
falar de emoções sem se referir à espiritualidade. Sabemos que a maioria das
religiões teve origem no final da Idade Antiga quando já existia a idéia
mística oriental que já mostrava o quanto podemos ser enganados pelo nosso
“ego”. Os movimentos religiosos ocidentais monoteístas se apropriaram de muitas
dessas idéias para orientar novas maneiras de compreender o sagrado e fundaram
igrejas e templos. No entanto, sendo místico ou religioso o que importa mesmo é
a prática da compaixão e da necessidade de “cuidar do outro” seja qual for a
sua intenção divina. A ameaça de uma divindade que está fora de você e que pode
decretar seu ingresso para o inferno sempre nos atormentou no mundo religioso.
No mundo místico a divindade está dentro de você e só a você cabe
decidir para onde deseja ir, independentemente de qualquer vigilância superior.
Dessa forma é mais fácil mudar a você mesmo do que a vontade de um deus. Por
outro lado, entendendo isso, reconhecerá também o tamanho da responsabilidade a
ser assumida.
Existe ainda outro motivo para você pensar em
investir em você mesmo. É que muitos pesquisadores estão afirmando que há uma clara
tendência no mundo do futuro para que atividades e postos de trabalhos
repetitivos - e que não exijam criatividade e emoção - sejam substituídos por
máquinas inteligentes. A robótica já é uma realidade no nosso cotidiano e em
diversas fábricas. O banco 24 horas é capaz de atender você em muitas das suas
necessidades sem ser exatamente criativo. Ele apenas dialoga com você de modo
estreito e objetivo. Ele não percebe os seus sentimentos, azedumes ou a sua
felicidade momentânea. Ele apenas repete as operações para as quais foi
programado; e faz isso com grande eficiência. Devemos estar preparados – cada
vez mais – para compreender que muitas das ações que praticamos hoje não serão
mais tão necessárias quanto desejássemos que fosse porque os robôs vão
substituir você, e o seu emprego não estará mais garantido. Não precisa entrar
em pânico porque as questões emocionais ainda são o seu maior trunfo para
preservar o seu futuro ao lado de “criados eletrônicos” competentes. Dessa
forma, a criatividade passa a ser uma inteligência altamente desejável porque
ela influencia todas as demais inteligências sem pertencer a nenhuma delas. Um
robô pode até interpretar algumas das expressões faciais mais comuns entre
humanos, mas não saberá lidar com novas situações repentinas e inimagináveis.
Nosso conselho é que mesmo não sendo uma aberração
no mundo da Inteligência você pode desenvolver diversas habilidades através dos
seus próprios esforços. Aprenda a aprender, dedicando parte do seu dia para o
aprimoramento do que já sabe e aprendizagem de novos conhecimentos que possam
somar ao seu acervo intelectual. Eu nasci em 1946, num tempo datilográfico e
mecânico. Vivo hoje, em 2016, num tempo digital e eletrônico. E se não fosse a
minha percepção de que o mundo mudou, eu ainda estaria usando a minha antiga
máquina de escrever e o meu antiquado telefone de disco com uma série de
números indo e voltando ao mesmo lugar. Não usaria e-mail e estaria
constantemente colando selos com a língua como fiz diversas vezes, hoje um
tanto incomum.
Ao nos deparar com os problemas da vida, precisamos estar devidamente equipados para dar conta deles, seja por métodos tradicionais e padronizados (com tendência a serem em breve antiquados), seja por novas abordagens ainda não testadas no tempo e no espaço. Qualquer que seja o desafio a ser enfrentado, ele vai lhe pedir uma solução. E então, precisaremos voltar a ser criança para que a nossa imaginação percorra o mundo do não-convencional e seguir sem aqueles bloqueios conhecidos que nossos pais e o mundo nos impingiram para que nos tornássemos adultos. Devemos voltar a ser criança com posicionamentos adultos para criar as soluções práticas que precisamos. Enquanto não somos uma criança imaginativa e um adulto criativo, ao mesmo tempo, teremos muitas dificuldades para ultrapassar obstáculos criados por nós mesmos. Nosso estilo de vida ainda é muito afetado pelos interesses econômicos superficiais, mas também podemos nos educar para a nossa própria realização como ser humano igualmente sensível às outras áreas mais profundas. Desconstruir mitos e bloqueios tornou-se tarefa fundamental no enfrentamento do futuro, seja para a nossa sobrevivência individual, seja para a sobrevivência da nossa própria espécie.
Ao nos deparar com os problemas da vida, precisamos estar devidamente equipados para dar conta deles, seja por métodos tradicionais e padronizados (com tendência a serem em breve antiquados), seja por novas abordagens ainda não testadas no tempo e no espaço. Qualquer que seja o desafio a ser enfrentado, ele vai lhe pedir uma solução. E então, precisaremos voltar a ser criança para que a nossa imaginação percorra o mundo do não-convencional e seguir sem aqueles bloqueios conhecidos que nossos pais e o mundo nos impingiram para que nos tornássemos adultos. Devemos voltar a ser criança com posicionamentos adultos para criar as soluções práticas que precisamos. Enquanto não somos uma criança imaginativa e um adulto criativo, ao mesmo tempo, teremos muitas dificuldades para ultrapassar obstáculos criados por nós mesmos. Nosso estilo de vida ainda é muito afetado pelos interesses econômicos superficiais, mas também podemos nos educar para a nossa própria realização como ser humano igualmente sensível às outras áreas mais profundas. Desconstruir mitos e bloqueios tornou-se tarefa fundamental no enfrentamento do futuro, seja para a nossa sobrevivência individual, seja para a sobrevivência da nossa própria espécie.
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