quarta-feira, 8 de abril de 2020

Alguém quem?




E, se alguém tiver que fazer algo por mim,
Que esse alguém seja eu. Se tiver que ser assim.

Se alguém tiver que me fazer crescer, que me cresça eu.
Ninguém melhor para lutar comigo mesmo.

Ouvir algo bom?
Que me diga eu e as minhas ilusões de bom.

Porque somente eu sou eu, ninguém mais.

E se eu não me respeitar, quem me respeitará?

Que alguém é esse que acha que sabe quem eu sou?
Se mesmo sendo eu, inda assim, tenho minhas dúvidas de ser?

Alguém quem?...

(RRS, 1º set/2019)

Aceitação


Perceber o outro como ele é.
Sem filtros, sem imposições, sem confrontações.

Pode ser difícil.
Requer muitas lições ou muitas reflexões.

Acatar o outro com respeito;
Entender o que corre em cada peito.

Pode ser um desafio. Muitas considerações.

Estar no lugar de alguém
Entender o que faz e porque não faria.
Sem impor limitações, algum discurso, alguma teoria.

Isso é empatia!

Estar no ser. Ser o estar.

Isso é aceitar.

(RRS, 28 ago/2019).

terça-feira, 7 de abril de 2020

Passagem



E aos poucos, nem sempre por causa de um longo tempo,
As pessoas vão saindo de cena.
Nem todas sabem para onde vão.
Algumas, nem querem ir...
Outras decidem ir, com seus próprios argumentos.  
Outras mais, nem argumentos têm;
Mas se vão assim mesmo.
Algumas acham que voltam;
Outras partem duvidando.
Outras mais, não acham nada, apenas se vão.
Algumas se preparam, outras não.
Que difícil momento!
Algumas se vão dormindo; outras, acordadas.
Algumas, lentamente; outras, repentinamente.
Algumas com sofrimentos; outras, sem dores.
O que pensam nessas horas? Só elas sabem...
Elas se vão, ficamos nós. Aguardando a nossa vez de ir.
De deixar mais um lugar vazio.
E quem sabe, alguma lembrança.
Ou uma recordação marcante: uma fala, um desaforo, uma caminhada.
Uma aventura, um deslize, uma gozação.
Um carinho, um palavrão, uma risada.
E, no final de tudo,  uma luz no fim do túnel,
A nos sugerir, silenciosamente, que cumprimos enfim nossa jornada.
(RRS, 3-mar/2020).

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Ser batata.

Estava eu descascando batatas;
E quantas vezes já fiz isso na vida!
Quando atentei para algo inusitado: as batatas não são todas iguais...
Pode rir! É a mais profunda verdade.
Como eu gostaria que todas as batatas fossem iguais!...
Do jeito que eu gosto. Facilitando a minha vida.
Do tamanho exato que eu gostaria que fossem.
Mas, decepção! Elas são todas diferentes.
Podem ser até parecidas, mas nenhuma delas é igual.
Então, refleti como sou egoísta,
Desejando que todas elas sejam do tamanho que eu quero que sejam.
Mas, cada batata, é como é,
Não posso muda-las!
Nem no tamanho, nem na consistência.
Na rapidez com que cozinham; mais doces, mais macias.
As batatas são como são.
Só minha incompreensão deseja padroniza-las. 
Então, depois de muito refletir, passei a respeitar cada batata.
Feias, redondas, bichadas, verdes, maduras, coloridas ou não.
E desde então, tenho me relacionado melhor com o mundo. 
E comigo mesmo.
Entendi que as batatas nascem e se criam conforme suas naturezas.
Talvez, se eu fosse uma batata, 
Compreenderia melhor as diferenças do mundo.
Não sei se estaria feliz sendo bichada, ou muito grande e redonda.
Mas eu não teria grande chance para mudar isso.
Apenas ficaria ouvindo as pessoas a me fazerem críticas:
Olha que batata enorme! Eu só gosto das menores.
Esta aqui deve estar verde, com um gosto horrível.
Esta outra é pequena demais! 
Olha aqui! Esta está furada! Deve estar podre por dentro!
  E eu, ali, quieta; com a natureza e o momento que a vida me ofereceu.
Ouvindo todas aquelas lamúrias e lamentações.
Eu gostaria que as pessoas fossem batatas apenas um dia.
Talvez entendessem porque eu sou assim como sou.
Tenho qualidades e defeitos. Não sou perfeita!
Mesmo sendo rejeitada e menosprezada, 
Eu jamais deixarei de ser batata.
E quem não me aceitar: que vá plantar batatas...

(RRS, 10 mar/2020).

Uma meia, eu e meu pé esquerdo.




E, sozinhos na noite, estávamos nós.

Ela perdida; eu desnorteado, tateando aqui e ali.

Como encontrá-la na solidão, mal encoberto?

O abrigo! Onde está o abrigo?  Onde está o calor?

Estará no entorno?

Tentar encontrá-la no frio, desagasalhado?

 Tremer um pouco?

Se deparar com o outro em meio ao inesperado?

E assim, na mesma cama, continuávamos sós.
Ela, sem ninguém.
E eu, com ele, entre os lençóis.
Ela, meia desparelhada.

Eu, corpo desnudado.

Ele, pé desamparado.

(RRS, 22 ago/2019)