sábado, 13 de setembro de 2014

A moldura, o espelho e eu.





Andava eu com o meu rosto distraído,
quando então, inesperadamente,
 vi um antigo espelho emoldurado.
O seu entorno, incrivelmente detalhado,
o envolvia de uma forma inusitada.

Fiquei ali, não sei bem por quanto tempo, 
mas meditei sobre a minha própria vida:
das aventuras, dos sorrisos, dos espantos,
das diversões, das danças e dos encantos.

O que somos nós senão espelhos?
Espelho de nós, espelho dos outros:
um monte de espelhos!

E cada um carrega a sua moldura.
Algumas, muito alegres, refinadas.
Outras, muito tristes, empobrecidas...

Imaginei a minha própria moldura. 
Será alegre? Angustiada? Descontente?
Com muita ou pouca pintura?
Será lisa e sem textura?

Até que em dado momento me veio uma outra questão:
e o espelho? O que ele é?
Será ele também tão permanente?
Tão verdadeiro e tão envolvente?

Mostrará ao mundo todos os detalhes, 
todas as cores e todos os entalhes?
Cada contorno do nosso rosto-pedra, 
resultado do cinzel do tempo, esculpido na carne e na alma?
Retratará um sofrimento interno?
Todo o desespero ou toda a nossa calma?

Pensando bem, isso pouco importa!

Posso muito bem mudar minha moldura!
Quem sabe um tom mais forte ou mais quente?
Ou uma cor um tanto mais ousada?
Bem acolhedora! Toda despojada!

É isso! O que eu preciso é de uma mudança!

Construir a minha nova imagem!

E aquele olhar sem graça e apagado,
 Voltará a ser iluminado, cheio de brilhos: 
quase que encantado!

Viva a moldura! Viva o espelho! Viva eu!

Ser feliz não é nenhum pecado.
Quero me ver sorrindo neste quadro!
Eu aqui em pé, cheio de otimismo, 
Vendo a minha alegria do outro lado.

(RRS, 11 set. 2014)